quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um Nobel para o futuro

A Academia Sueca costuma premiar, tanto na literatura quanto na área científica, nomes consagrados, responsáveis por obras e inventos reconhecidos internacionalmente há pelo menos uma década. Um exemplo foi o Nobel divulgado na última segunda-feira, em Medicina ou Fisiologia, para o britânico Roberto Edwards, de 85 anos, que desenvolveu há mais de três décadas a fertilização in vitro, sendo considerado o pai do bebê de proveta. Essa técnica propiciou o nascimento de mais de 4 milhões de crianças, mas até hoje ela causa polêmica, tendo sido Edwards acusado na época de “brincar de Deus.” O Vaticano teceu e tece críticas a essa técnica, mas as famílias que conseguiram ter filhos dessa forma agradecem a ele por isso.
Anteontem, a Academia fugiu à regra de atribuir o Nobel para quem teve a sua invenção, técnica ou experimento testado na realidade com sucesso milhares ou milhões de vezes. Premiou dois físicos russos Andre Geim, de 52 anos e Konstantin Novoselov, de 36, por terem obtido pela primeira vez em 2004 um material revolucionário, que poderá transformar a eletrônica e a informática no futuro. Trata-se do grafeno, um material minúsculo, invisível na maioria dos microscópios, que deverá substituir o silício, por ser mais rápido e mais resistente. Numa comparação livre em termos evolutivos, o grafeno seria o pendrive e o silício o CD.
Já está sendo chamado de “o chip do futuro”, havendo previsões de ampla utilização em computadores, para torná-los muito mais rápidos do que já são e até como sensores capazes de detectar uma única molécula de gás tóxico, prevenindo tragédias em empresas e no meio ambiente, em caso de vazamentos, e em atentados químicos em locais de grande densidade demográfica.
Novoselov, que foi orientando de Geim no doutorado, é aos 36 anos um dos mais jovens cientistas a receber o Nobel. Ambos atuam na Universidade de Manchester, no Reino Unido e, com essa descoberta, abrem um espaço fabuloso para que a nanotecnologia se desenvolva ainda mais nas próximas décadas, com aplicação na medicina, possibilitando o tratamento e a cura de várias doenças.
A estrutura do grafeno é bastante elástica e mais resistente que o diamante. Atribuir o Nobel a cientistas de ponta, que ainda não concluíram o seu trabalho, mas estão a pleno vapor aperfeiçoando-o cada vez mais, coloca a Academia numa condição mais ousada do que costuma ser normalmente. Esses cientistas ainda darão o que falar, mas os seus nomes já entraram para a história da física com o Nobel ganho por merecimento.
Andre Geim é considerado um cientista com grande senso de humor. No ano 2000, ele ficou conhecido por ganhar o Ig Nobel, que é o Nobel das invenções estranhas. Ele foi premiado por um experimento que consistia em usar ímãs para levitar sapos. Preferimos o grafeno.

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